O SindRio foi destaque na coluna CNN Viagem & Gastronomia, com um tema intrigante: a decisão de alguns restaurantes em fugir das regiões mais conhecidas por suas cenas gastronômicas, optando por locais alternativos. A matéria destacou empreendimentos no Rio de Janeiro e em São Paulo que estão ganhando notoriedade ao desafiar a lógica tradicional do mercado e explorar novas rotas para o sucesso.
A Lapa como escolha estratégica
Entre os exemplos citados está o restaurante Lilia, do chef Lucio Vieira, localizado na Lapa, no Rio de Janeiro. Inaugurado em 2017, o Lilia foi aberto em um sobrado histórico no centro carioca, área que há tempos perdeu parte de sua vida noturna e gastronômica para a zona sul da cidade. Para Vieira, a decisão não foi motivada por uma causa social ou política, mas por razões práticas e econômicas. “Optei pela região central do Rio de Janeiro porque ela se mostrou, economicamente, a mais viável”, comenta o chef. “Eu não tinha como arcar com os aluguéis cobrados, por exemplo, na zona sul”, acrescenta.
O sucesso do Lilia foi tanto que Vieira abriu mais quatro estabelecimentos na mesma região: Lilia Bistrô, Labuta Bar, Braseiro Labuta e Celeste e o Labuta Mar na Gloria. “Com a pandemia, surgiram outras boas oportunidades na região”, diz o chef.
Chegando por barco até a Ilha Primeira
Outro exemplo de aposta fora da rota gastronômica é o Ocyá, do chef Gerônimo Athuel, localizado na Ilha Primeira, na Barra da Tijuca. O restaurante se destaca por aplicar a técnica de maturação a seco em pescados, como sororoca, faqueco e carapeba. Para chegar até o local, é necessário pegar um barco nos fundos do BarraPoint Shopping ou da Estação Jardim Oceânico. Essa escolha ousada não impediu o Ocyá de conquistar uma posição de destaque no mercado, figurando na 96ª posição do ranking dos melhores restaurantes da América Latina.
Gerônimo e Lucio participaram recentemente de uma mesa-redonda no SindNews, onde discutiu-se a revitalização de áreas menos exploradas através da gastronomia. Athuel destacou que a escolha da Ilha Primeira foi uma aposta na autenticidade e no desejo de oferecer uma experiência única aos clientes. “Apostar em locais não convencionais nos ajuda a criar um conceito mais original e atrair clientes dispostos a novas descobertas”, explica o chef.
Uma experiência exclusiva no Jardim Botânico
Seguindo o conceito de exclusividade, o Casa 201, da empresária Cris Julião, optou por um imóvel discreto na rua Lopes Quintas, no Jardim Botânico. Inaugurado em 2022, o restaurante é um refúgio gastronômico que só atende mediante reserva e recebe clientes em um ambiente intimista, semelhante ao de um jantar na casa de amigos. “Para a nossa proposta mais intimista, uma rua tranquila como a Lopes Quintas é o ideal”, afirma Cris Julião. “Se ela fosse cheia de restaurantes e bares, talvez não combinasse com o nosso conceito”, acrescenta.
O restaurante oferece apenas menu degustação, com oito etapas que mudam a cada três meses.
Vantagens e desafios das regiões alternativas
Fernando Blower, presidente do SindRio, também compartilhou sua visão sobre a escolha de locais fora do eixo tradicional para novos empreendimentos. Ele explicou que, embora a escolha por ruas e bairros badalados possa trazer maior visibilidade, ela também implica em custos mais altos e uma concorrência acirrada. “A aposta em regiões que não são conhecidas pela gastronomia pode ser mais vantajosa financeiramente, mas requer um esforço maior para atrair clientes e estabelecer a reputação do negócio”, observa Blower.
Essa estratégia, porém, não é isenta de riscos. Para obter sucesso em regiões fora do circuito, é preciso oferecer uma experiência diferenciada, seja no cardápio, no ambiente ou no atendimento, para atrair tanto os moradores locais quanto os clientes de outras áreas.
Soul Botequim e o potencial de expansão
O Soul Botequim, fundado por Humberto Ribeiro no Brooklin, em São Paulo, é mais um exemplo de sucesso fora da rota tradicional. Ribeiro optou por um bairro com pouca concorrência para lançar um bar com potencial de expansão. “Se eu abrisse em uma área já cheia de opções, jamais saberia se o bar enche por mérito próprio ou em função do movimento ao redor”, afirma Ribeiro.
Essa escolha permitiu que o bar se consolidasse rapidamente, atraindo uma clientela fiel e majoritariamente composta por moradores da região. Ribeiro revelou que 90% dos frequentadores são da vizinhança e que nunca investiu em divulgação nas redes sociais. O sucesso foi tão grande que o Soul Botequim está prestes a abrir sua primeira filial em Campinas.
O movimento reverso do Cepa
Enquanto muitos empreendimentos optam por sair das regiões mais movimentadas, o restaurante Cepa fez o caminho inverso. Após cinco anos no Tatuapé, zona leste de São Paulo, o restaurante se mudou para Pinheiros, na zona oeste, uma região mais badalada e com maior fluxo de clientes. Gabrielli Fleming, uma das proprietárias, explicou que a mudança foi necessária para o crescimento e a constância de movimento do restaurante. “Nos tornamos um restaurante de destino, e pelo menos 80% dos nossos clientes não eram do bairro. Para crescimento e desenvolvimento, especialmente de quem trabalha com a gente, precisávamos dar esse passo”, revela Gabrielli.
E você, já pensou em abrir um restaurante fora do eixo tradicional?