Festival Gosto da Amazônia chega a Belém
Pirarucu selvagem de manejo sustentável é destaque em festival que une sabores regionais e práticas sustentáveis

O Festival Gosto da Amazônia chega a Belém, de 19 de setembro a 5 de outubro, celebrando o pirarucu selvagem de manejo sustentável, um símbolo da região amazônica. Cerca de 25 restaurantes da capital do Pará irão oferecer pratos exclusivos, que tem como destaque o maior peixe de escamas de água doce do mundo, com o objetivo de unir sabores regionais à valorização de práticas sustentáveis de conservação da floresta no ano em que a cidade se prepara para receber a COP 30.
Sérgio Abdon, responsável pela produção do Festival e diretor-executivo do SindRio, o sindicato de bares e restaurantes do Rio de Janeiro, ressaltou a relevância de diferentes restaurantes incluírem o pirarucu em seus cardápios, explorando diferentes preparos ao longo do Festival. “A participação de restaurantes com perfis variados ajuda a evidenciar a enorme versatilidade do pirarucu”.
Pirarucu amazônico: sabor, sustentabilidade e impacto socioambiental
O pirarucu selvagem não impressiona apenas pelo porte – até três metros de comprimento e 200 quilos -, mas também pela carne clara, tenra, sem espinhas e de sabor suave, ideal para a culinária. O grande diferencial do Festival Gosto da Amazônia é o modelo de manejo sustentável, implementado no estado do Amazonas. Este manejo contribui significativamente para a conservação de mais de 11 milhões de hectares da floresta amazônica e gera renda, melhorando a qualidade de vida de comunidades indígenas e ribeirinhas da região.

Ana Alice Britto, coordenadora comercial da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC), que representa comunidades manejadoras no Médio Juruá (AM), destaca que o Festival visa estimular o consumo do pirarucu de origem sustentável. O objetivo é ampliar o conhecimento da população sobre os benefícios socioambientais dessa cadeia produtiva. “A iniciativa também gera visibilidade para os chefs e restaurantes parceiros em Belém, que passam a integrar essa história de valorização da sociobiodiversidade e conservação da floresta por meio da gastronomia”, afirma.
Para Ana Alice, a chegada do pirarucu aos cardápios de renomados restaurantes em Belém é um símbolo de transformação. “É uma vitória sair das margens dos rios amazônicos e chegar aos cardápios de restaurantes renomados, como os de Belém, cidade histórica e de culinária espetacular. Essa parceria entre floresta e cidade mostra que é possível construir uma nova Amazônia, onde a sociobiodiversidade nos alimenta e aponta para um futuro melhor. Quem conhece o Gosto da Amazônia e seus valores sociais, ambientais e gastronômicos não esquece mais do pirarucu manejado”, completa.
Um produto versátil nas mãos de chefs criativos
O Festival, que já percorreu capitais brasileiras como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Recife, chega a Belém. Durante os dias do festival, cada restaurante participante servirá um prato exclusivo com o pirarucu do Gosto da Amazônia, valorizando ingredientes oriundos da sociobiodiversidade regional.
Restaurantes como Eugenia, Celeste, e Santa Chicória, bastante festejados em Belém, irão oferecer receitas que prometem surpreender o público no Festival. Dentre estas receitas estão o inusitado sanduíche japonês Sando, que em sua nova versão será produzido com o pirarucu empanado e pão de leite pelo chef Marley d’Oliveira, do restaurante Eugenia.

O chef reafirma a importância do Festival na visibilidade ao pirarucu fresco, que enfrenta limitações de acesso. “Na região da capital, ainda usamos muito o pirarucu salgado. O fresco, infelizmente, ainda é difícil de encontrar com boa qualidade. Esse festival vai incentivar muita gente a conhecer e valorizar o produto in natura, que tem um potencial gastronômico imenso”, afirma.
O restaurante Celeste, da chef Esther Weyl, incluiu no seu cardápio um prato com o pirarucu de três formas distintas: fresco, seco e defumado. “É um prato muito saboroso, que mostra como esse ingrediente pode ser explorado de várias formas”, ressalta Esther. Ela ainda ressaltou a importância de estar participando do festival, que reflete o compromisso com a valorização de insumos regionais. “Esta é uma oportunidade de apresentar um produto de qualidade, de origem conhecida, como o pirarucu, e falar sobre ele com o respeito que merece”, afirma a chef.
No Com’è?! Ristorante, o destaque é o “Pirarucu Saltimbocca”, com lascas de presunto de parma e chicória, servido com arroz ao tomate, caldo de polvo e farofa de limão. Já o Casa Blanca apresenta o “Pirarucu da Floresta”, grelhado e acompanhado de risoto de feijão manteiguinha, chips de macaxeira e crispy de jambu. Na Saldosa Maloca, o “The Amazon King” traz a ventrecha do peixe com arroz, batatas ao forno com ervas e pirão de tapioca. O Restaurante Sushi Boulevard aposta no “Poke Amazônico”, que combina arroz japonês, pirarucu grelhado, kani na manteiga, camarão na tapioca, manga e topping de crispy, acompanhado de harumaki de pirarucu com cream cheese.

Conservação e desenvolvimento na Amazônia
O Festival é uma iniciativa do Gosto da Amazônia, que representa organizações comunitárias da região e promove os princípios da conservação ambiental, comércio justo e desenvolvimento socioeconômico sustentável. Nos últimos 10 anos, o manejo do pirarucu selvagem levou a um aumento de mais de 600% na quantidade da espécie em áreas monitoradas, comprovando o sucesso da estratégia de conservação aliada ao uso sustentável.

Além da conservação da espécie, as comunidades envolvidas no manejo foram impactadas positivamente. Um exemplo claro é a comunidade de São Raimundo, no município de Carauari, onde só se chega depois de duas horas de voo a partir de Manaus, 36 horas de barco e mais uma hora a bordo de canoa motorizada. Antes do Gosto da Amazônia, a população garantia duas horas de energia elétrica por dia a partir de um gerador a diesel, e hoje os painéis solares fotovoltaicos, custeados com a venda do pirarucu, garantem energia elétrica estável e duradoura à comunidade.
Sérgio Abdon falou sobre a importância de organizar a primeira edição do Festival em Belém, sede da COP 30, a conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas. “A ideia é aproveitar o fato de que os olhos do mundo estão voltados para Belém para colocar nos holofotes uma cadeia produtiva que favorece a preservação da Amazônia”, afirmou.
O SindRio tem apoiado o Gosto da Amazônia desde 2019, contribuindo para a valorização da gastronomia amazônica e o desenvolvimento sustentável da região. Conheça os restaurantes participantes através do link.
Conheça os restaurantes participantes