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Revitalização da Cobal: um retorno aos clássicos da boemia carioca

As Expectativas em torno das unidades do Humaitá e do Leblon

Com um histórico de habitués que inclui figuras lendárias como Tom Jobim e João Ubaldo Ribeiro, a Cobal em Humaitá e a do Leblon estão em reforma desde junho. Explore conosco a trajetória desses icônicos pontos de encontro e as perspectivas para sua revitalizaçao.   

O legado boêmio da Cobal no Leblon: Tom Jobim, Jão Ubaldo Ribeiro e outros luminares

Uma fotografia que circulou há dois anos no X (antigo Twitter) imortalizou os tempos áureos da Cobal no Leblon. Veiculada por Rita Carvana, mostra o pai dela, o ator e diretor Hugo Carvana (1937-204), prestes a entornar o que aparenta ser uma dose de uísque. Ele divide duas daquelas mesas metálicas, típicas de botequins bem despojados, com ninguém menos do que o escritor João Ubaldo Ribeiro (1941-2014); o cartunista Millôr Fernandes (1923-2012); o escritor Luis Fernando Verissimo; o compositor Tom Jobim (1927-1994); e o arquiteto Paulo Casé (1931-2018). Sobre as mesas, uma porção de tulipas e três garrafas de cerveja.  

A imagem foi clicada, ao que tudo indica, no início dos anos 1990, quando a Cobal no Leblon, assim como a unidade em Humaitá, eram tidas como clássicos da boemia carioca. Carvana, Jobim e Ubaldo tinham o hábito de bater ponto na unidade no Leblon, próxima do Clube de Regatas do Flamengo, todo sábado. Com o passar do tempo, a presença deles, entre outros luminares da época, foi servindo de imã para novos frequentadores. Daí para os bares do complexo se converterem em points concorridos foi um pulo. Em paralelo, a Cobal em Humaitá foi ganhando status parecido.  

O declínio e o abandono: por que as duas unidades da Volbal perderam o brilho?

Tudo isso, no entanto, ficou no passado. De lá para cá, as duas unidades sumiram dos holofotes e, não é exagero dizer, caíram no esquecimento. Isso se deve, em parte, à inegável reviravolta da cena gastronômica nas últimas décadas no Rio de Janeiro, que, em matéria de bares e restaurantes de alto nível, passou a ombrear com metrópoles como São Paulo e Buenos Aires — sim, o padrão de atendimento dos estabelecimentos cariocas, de maneira geral, foi da água para o vinho, embora ainda haja tropeços aqui e ali.  

Outro fator, talvez o principal, é o ar de abandono que as duas unidades da Cobal foram ganhando nas últimas décadas. Tombadas pela Prefeitura do Rio em 2011 e pela Assembleia Legislativa fluminense em 2019, elas foram criadas em 1970 pela extinta Companhia Brasileira de Alimentos (COBAL), o que explica o nome. O órgão foi incorporado, em 1990, pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), criada pelo Governo Federal no mesmo ano. Tanto uma Cobal quanto a outra nasceram com o propósito de reunir hortifrutigranjeiros para abastecer a população local sem flutuações de oferta. As atrações gastronômicas adoradas por Jobim e companhia vieram a reboque, assim como as apresentações de grupos de choro e samba. 

O projeto de revitalização da Conab: um investimento de R$5 milhões

Em junho, a Conab começou a reformar os dois célebres hortomercados. “Quero dizer aos cariocas que esse local que é tão aprazível e que faz parte da cultura da cidade vai ser revitalizado”, declarou Edegar Pretto, presidente da estatal, em cerimônia realizada na unidade que a turma de Carvana frequentava. “Os R$ 5 milhões que nós estamos investindo já vai dar uma outra cara tanto aqui pra Cobal do Leblon quanto para a Cobal do Humaitá. Vamos também celebrar um termo de cooperação entre a Conab e a Prefeitura do Rio para que esses dois espaços fiquem ainda mais potentes para a população carioca”. As obras prometem modernizar os dois espaços e contornar sérios problemas de conservação. O término está previsto para daqui um ano.  

Impacto no turismo e na gastronomia carioca: a visão do SindRio

Para Fernando Blower, que preside o SindRio, o Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro, a revitalização das duas unidades da Cobal é mais do que oportuna. “Será extremamente benéfica para o turismo na Zona Sul carioca”, afirma ele, lembrando que o Mercado Municipal do Rio, o Cadeg, famoso tanto pela grande concentração de produtores quanto pela ampla oferta de restaurantes, encontra-se em Benfica, na Zona Norte.   

“Mercados que conseguem fazer uma curadoria de produtores que atendam os interesses dos moradores, além de agrupar bares e restaurantes que caiam nas graças tanto dos turistas quanto do público local, costumam fazer enorme sucesso”, defende Blower. “Inúmeras cidades badaladas, como Londres e Lisboa, dispõe de pelo menos um. Só dá certo, porém, com uma boa curadoria. Do contrário vira um condomínio de lojas sem nenhuma identidade”.      

Outros projetos de revitalização: o Mercadinho São José

Registre-se que o Mercadinho São José, que estava abandonado desde 2018, deverá reabrir neste ano após uma longa reforma. A Junta Local se aliou à empresa de engenharia Engeprat para montar o consórcio que será responsável pela administração do espaço, em Laranjeiras, nos próximos 25 anos – o mercado e o terreno ao lado pertenciam ao INSS, que os repassou para a prefeitura por R$ 3 milhões. A meta é distribuir os boxes para queijarias, peixarias e lojas de vinho, entre outros empreendimentos do tipo. Espaços para produtos orgânicos e operações gastronômicas também estão previstos.  

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