
Com o advento das vendas online, que diminuiu o apelo de muitas lojas físicas de roupas e acessórios, as operações gastronômicas passaram a ser vistas como imprescindíveis pelos centros comerciais
Nos shoppings do Rio de Janeiro, o restaurateur Marcelo Torres reina como poucos. Sete dos dez empreendimentos dele estão localizados em centros comerciais. O Giuseppe Mar, o Nolita e o Yusha encontram-se no VillageMall, na Barra da Tijuca. O Giuseppe SQ integra o BarraShopping, no mesmo bairro. No New York City Center, uma extensão deste último centro de compras, fica o Nolita Roastery. O Xian e o Laguiole Buffet situam-se no Bossa Nova Mall, colado ao aeroporto Santos Dumont.
Os demais empreendimentos de Torres são o Giuseppe, no centro, o Giuseppe Grill, no Leblon, e o Villa Riso, um espaço de eventos em São Conrado. O grupo do restaurateur, o BestFork, atende 1,2 milhão de clientes por ano, tem quase 1.000 funcionários e fatura cerca de R$ 16 milhões por mês.
“Montar operações em shoppings é algo vantajoso porque a segurança e a organização oferecida por eles é inegável”, diz Torres. “É um erro achar, no entanto, que um centro de compras vai colocar clientes dentro do seu restaurante. Se for um shopping de sucesso, pode até colocá-los na porta do seu negócio. Cabe a você criar estratégias para atraí-los para dentro”.
Por coincidência ou não, Torres trabalhava na Multiplan quando inaugurou o Giuseppe, no centro do Rio, em 1993. Fundada por José Isaac Peres, a empresa de investimentos imobiliários é dona de uma porção de centros de compras, do BarraShopping ao MorumbiShopping, em São Paulo.
Torres montou o Giuseppe, seu primeiro restaurante, porque a sede da Multiplan funcionava no mesmo bairro e faltavam boas opções, na visão dele, para almoçar na região. Em 1997, no imóvel vizinho, Torres inaugurou o extinto Laguiole, que depois foi transferido para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e ganhou uma estrela Michelin.
Inaugurado em março do ano passado, o Nolita Roastery custou R$ 24 milhões. A novidade ocupa 3.500 metros quadrados do New York City Center. Com capacidade para atender 1.000 pessoas simultaneamente, dispõe de cinco operações distintas: o restaurante Nolita NY, a confeitaria Milkbar, a chamada Fantástica Fábrica de Doces Nolita, um bar e o Nolita Roastery.
Torres, como é de imaginar, é um entusiasta dos shoppings. Seu único porém se deve ao fato de que eles passaram a enxergar as operações gastronômicas como imprescindíveis. Trata-se de um reflexo do advento das vendas online, que diminuiu o apelo de muitas lojas físicas de roupas e acessórios. O fenômeno fez com que os centros de compras aumentassem a aposta em bares e restaurantes de peso, que tendem a atrair um bom volume de frequentadores — e impedem os corredores de ficarem às moscas.
“Os restaurantes viraram o principal atrativo dos shoppings, que, consequentemente, passaram a abrir cada vez mais espaço para negócios do tipo”, observa Torres. “Com a superlotação de opções para comer, alguns empreendimentos tendem a ir mal. O número de frequentadores de cada shopping, afinal, continua o mesmo”.
Torres é um dos palestrantes da primeira edição do Fórum de Líderes na Gastronomia (FOLGA), no dia 10 de junho. Organizado pelo SindRio, o Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro, o eventoreuniu, das 9h às 19h30, 700 pessoas na Marina da Glória. Com dois palcos, o maior, reservado para palestras e paineis, com capacidade para 350 pessoas. O menor, destinado a bate papos sobre o dia a dia da gestão, para 40 visitantes.
O evento de 2025 conta com o patrocínio do iFood, Sebrae, PDV Legal, Unilever Pro, Seara Food Solutions, Genial Solar, Mc Cain, Villa Camarão, Rational, Alfatec, Goomer, CIEE Rio, Maúra Bulcão, Rubi Nutri Solutions, Foco Marketing, Múltipla Benefícios, King higiene, RH Food, Suflex, Hocus Pocus, Seafood from Norway e Atitude ESG, além do apoio da Magnífica de faria, Mar Ipanema Hotel, Visit Rio e Frédéric Monnier.
“Com este evento, queremos estimular o networking entre gestores de bares e restaurantes e o desenvolvimento de habilidades, algo fundamental para o crescimento do setor na cidade”, diz Fernando Blower, que preside o SindRio. Para associados do sindicato, o evento é gratuito. Para não associados, o ingresso custou R$ 389.
O objetivo do painel do qual Torres vai participar foi discutir as vantagens e os riscos associados à operação de bares e restaurantes em shoppings. Ele subiu ao palco ao lado de Dany Levkovits, co-fundador do grupo Antaris. A mediação ficou a cargo do jornalista Daniel Salles.
Dona de dez marcas, como Johnny Rockets, Cuor di Crema, Vassoura Quebrada e HNT, a Antaris tem mais de 150 lojas em 18 estados. Com R$ 350 milhões de faturamento anual, ela registra mais de 400 mil atendimentos por mês. Diz Levkovits: “Não dá mais para contar só com o fluxo de clientes dos shoppings. Existem muitos concorrentes, um do lado do outro, e sem recorrência nenhum restaurante sobrevive”.
Para quem está interessado em montar bares e restaurantes em centros de compras, Levkovits deixa os seguintes conselhos: “optar por áreas com mais circulação de pessoas faz toda toda a diferença e o custo de ocupação não pode passar de 15%, para não comprometer as margens de lucro, que, via de regra, já estão bem apertadas no nosso segmento”.